Mutação de dois genes
aumenta em 50% risco de dependência de nicotina
Cientistas brasileiros descobrem que variação de
dois genes que atuam no sistema nervoso central, onde a nicotina age, pode
levar à produção de remédios personalizados
Uma pesquisa brasileira revelou que a mutação de
dois genes pode aumentar em quase 50% a probabilidade de uma pessoa ser
fumante. Os resultados foram publicados na revista científica PLoS ONE.
O estudo, feito com a amostra de sangue de 531
voluntários, mostra que os dois genes estão associados diretamente ao
glutamato, neurotransmissor relacionado à sensação de prazer, e ao sistema
nervoso central, onde a nicotina atua.
A pesquisadora Vanessa Santos, responsável pelo
estudo realizado na PUC-RS, acredita que a descoberta pode ajudar na futura
produção de remédios personalizados - direcionados para dependentes com
diferentes tipos de patrimônio genético.
"Hoje, as empresas lançam um remédio para a
população em geral e vê se dá resultado", afirma. "A tendência é que,
no futuro, nós possamos focar em uma pessoa e fazer o tratamento dar
certo."
Multifatorial
Embora os
dois genes sejam clinicamente relevantes para identificar uma predisposição à
dependência de nicotina, a pesquisadora lembra que o tabagismo é uma doença
multifatorial e, por isso, varia de pessoa para pessoa de acordo com aspectos
sociais e comportamentais.
"Não podemos prevenir o tabagismo somente
verificando esses dois genes", afirma. "Essa doença é um grande
quebra-cabeça, e a nossa pesquisa fornece aos profissionais de saúde um maior
conhecimento sobre ela."
Para o coordenador do Programa de Controle do
Tabagismo do hospital universitário da PUC-RS, José Chatkin, que orientou a
pesquisa, remédios baseados em perfis genéticos podem ajudar pessoas com
dificuldade para largar o vício, mas não serão efetivos se aplicados de forma
isolada.
"Pela genética se consegue determinar qual o
melhor fármaco para a pessoa A ou para a pessoa B, mas o sucesso do tratamento
ainda vai depender da vontade do fumante de querer parar."
De acordo com o médico Gustavo Prado, pneumologista
que estuda tabagismo no Instituto do Coração (Incor), a pesquisa apresenta
números relevantes, mas ainda não é possível afirmar que o polimorfismo de dois
genes é o causador da dependência de nicotina.
"Substâncias codificadas por esses genes, como
o glutamato, podem estar envolvidas nas alterações funcionais do sistema
nervoso que predispõem uma pessoa ao desenvolvimento de doenças como a
dependência da nicotina, mas os resultados ainda devem ser vistos com
cautela", afirma o médico.
Novos tratamentos
Em busca de soluções inspiradas na engenharia genética, pesquisadores
da Weill Cornell Medical College, nos EUA, desenvolveram uma nova vacina contra
a nicotina.
O tratamento, aplicado em camundongos, consiste em
mapear a sequência genética necessária para produzir anticorpos antinicotina. O
DNA resultante é inserido em vírus, que, injetados nos dependentes, espalham-se
pelo organismo e ajudam a potencializar a produção de anticorpos.
"Até onde sabemos, a melhor maneira de tratar
o vício é ter anticorpos de patrulha, limpando o sangue antes que a nicotina
possa ter algum efeito biológico", afirma o coordenador da pesquisa,
Ronald Crystal.
O estudo, publicado na revista científica Science
Translational Medicine, mostra que a concentração de nicotina no cérebro de
camundongos dependentes diminuiu 85% depois da vacina.
Crystal diz que o tratamento só poderá ser testado
em humanos daqui a alguns anos, depois de mais estudos.
Fonte: reportagem de Luiz Carrasco, publicada no Estadão de 06 de julho de 2012.
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