2 de ago. de 2011

O caminho até o vício


Ninguém sabe como e quando o consumo 'social' e aceitável de bebida vai evoluir para a doença crônica do alcoolismo, mas já é possível avaliar a taxa de risco do uso abusivo

C.W.N,32, na clínica de reabilitação 

Maia, Grande São Paulo 
Pela primeira vez, um estudo brasileiro mostrou, em números, o risco de uma pessoa que abusa do álcool desenvolver a dependência.A taxa é alta: um a cada três bebedores abusivos vai passar para o estágio de doença crônica, conforme a classificação da Organização Mundial da Saúde."O diagnóstico de abuso é uma ótima oportunidade de reduzir o número de dependentes. As medidas para reverter o problema são mais fáceis [do que na dependência] e as taxas de sucesso, maiores", afirma a autora do estudo, a psiquiatra Camila Magalhães Silveira, do Instituto de Psiquiatria da USP.A pesquisa, feita com 5.037 pessoas na região metropolitana de São Paulo, foi publicada na "Alcohol and Alcoholism", revista oficial do Conselho Médico em Álcool do Reino Unido.Além de facilitar a prevenção, a identificação do abuso eleva as chances de mudança no padrão de consumo."Se ainda não há dependência, as medidas muito restritivas não são as melhores. Muitas vezes, não é necessário chegar ao médico, basta uma pessoa preparada para usar uma técnica que a gente chama de intervenção breve", diz Silveira.'FIESTA DRINKING'Não é fácil perceber os limites entre o uso regular e o abusivo. "O Brasil tem um padrão de consumo conhecido internacionalmente como 'fiesta drinking', que é beber no fim de semana em quantidade excessiva. A cultura não é a do [beber] moderado, é a do ficar embriagado."O psicólogo Luciano Oliveira, que atende na clínica de reabilitação Maia, na Grande São Paulo, afirma que muita gente começa bebendo todo final de semana, passa a beber no meio da semana e não percebe quando está ultrapassando seu limite."A pessoa perde o passo da realidade, não consegue mais identificar seus sentimentos. E vai empurrando a doença para frente."Como a dependência se desenvolve aos poucos, a pessoa cria estratégias e rituais para afirmar, para si e para os outros, que não está doente -como mostram os depoimentos a seguir.

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