Ninguém sabe como e quando o consumo 'social' e aceitável de bebida vai evoluir para a doença crônica do alcoolismo, mas já é possível avaliar a taxa de risco do uso abusivo
C.W.N,32, na  clínica de reabilitação 
Maia, Grande São Paulo 
Pela primeira vez, um estudo  brasileiro mostrou, em números, o risco de uma pessoa que abusa do álcool  desenvolver a dependência.A taxa é alta: um a cada três bebedores abusivos  vai passar para o estágio de doença crônica, conforme a classificação da  Organização Mundial da Saúde."O diagnóstico de abuso é uma ótima  oportunidade de reduzir o número de dependentes. As medidas para reverter o  problema são mais fáceis [do que na dependência] e as taxas de sucesso,  maiores", afirma a autora do estudo, a psiquiatra Camila Magalhães Silveira, do  Instituto de Psiquiatria da USP.A pesquisa, feita com 5.037 pessoas na  região metropolitana de São Paulo, foi publicada na "Alcohol and Alcoholism",  revista oficial do Conselho Médico em Álcool do Reino Unido.Além de  facilitar a prevenção, a identificação do abuso eleva as chances de mudança no  padrão de consumo."Se ainda não há dependência, as medidas muito restritivas  não são as melhores. Muitas vezes, não é necessário chegar ao médico, basta uma  pessoa preparada para usar uma técnica que a gente chama de intervenção breve",  diz Silveira.'FIESTA DRINKING'Não é fácil perceber os limites  entre o uso regular e o abusivo. "O Brasil tem um padrão de consumo conhecido  internacionalmente como 'fiesta drinking', que é beber no fim de semana em  quantidade excessiva. A cultura não é a do [beber] moderado, é a do ficar  embriagado."O psicólogo Luciano Oliveira, que atende na clínica de  reabilitação Maia, na Grande São Paulo, afirma que muita gente começa bebendo  todo final de semana, passa a beber no meio da semana e não percebe quando está  ultrapassando seu limite."A pessoa perde o passo da realidade, não consegue  mais identificar seus sentimentos. E vai empurrando a doença para  frente."Como a dependência se desenvolve aos poucos, a pessoa cria  estratégias e rituais para afirmar, para si e para os outros, que não está  doente -como mostram os depoimentos a seguir.

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